Quase 4 anos se passaram e cá estamos nós. Eu encontrei esse velho blog por acaso, mas ele desencadeou tantos questionamentos, sensações e lembranças que eu não esperava que desencadearia. Na minha última postagem eu estava no cursinho, hoje estou quase no meio do terceiro ano de medicina. Muita coisa aconteceu durante esse tempo, o mundo ao meu redor mudou, eu mudei. Mas não necessariamente para melhor.
Quando me deparei com esse blog há uns dias atrás li os textos postados e, sem eu saber direito o motivo, essa leitura fez brotar uma sensação de tristeza e de perda muito grande. Eu comecei a lembrar de quem eu era em 2013 e em quem eu sou hoje, em 2017. O basal não mudou, no quesito essência e personalidade. Amadureci, perdi alguns hábitos e adquiri alguns novos, engordei, emagreci, agora moro sozinha com meus gatos e por aí vai. Digamos que no âmbito "externo" a evolução foi clara. O que me preocupa é no âmbito "interno". Eu não escrevo mais, não desenho, não toco mais trompa, não tenho mais hobbies. Eu fui absorvida pela minha rotina de uma maneira brutal. O curso de medicina é maravilhoso, mas é egoísta. Não deixa muito tempo livre para os outros aspectos da vida (mesmo os básicos como vida social e familiar). Eu sempre fui muito exigente com o meu desempenho, sempre gostei de estudar e sempre tive uma tendência de ter certo "vício por trabalho". Já dá pra imaginar que unir todos esses fatores não resultará em algo totalmente positivo.
Sinto que meu eu interior foi chutado e encurralado em um canto escuro da minha mente e está imóvel e em silêncio, sinto que estou amortecida e anestesiada, como se uma grande parte da minha vida tivesse passado e eu não estava lá participando. Quando li meus textos antigos, me dei conta que hoje em dia não tenho mais tempo para pensar. Eu não penso mais profundamente sobre assunto nenhum. Eu estou vivendo no mais raso possível, basicamente existindo e sobrevivendo ao invés de sendo. E eu fiquei extremamente triste e frustrada quando me dei conta disso. Cadê a profundidade da minha existência?
Posso descrever minha rotina em poucas palavras. Se não estou na aula, estudando para alguma prova ou dormindo, estou passando pelas redes sociais vendo coisas inúteis, jogando no celular ou vendo alguma série ou anime. E só. O que eu me tornei? Que tipo de criatura amorfa eu estou me tornando? Ou já me tornei de fato? Eu sempre disse para mim mesma que não deixaria isso acontecer. Em que momento eu perdi o controle da situação? Como eu pude não perceber o limbo que estava me engolindo? Agora cá estou eu, nem ao céu nem ao inferno, apenas mofando no purgatório. Sinto que estou desaparecendo. E assumir e perceber tudo isso a essa altura faz surgir um nó na minha garganta, uma frustração, medo, decepção, tristeza, um misto de sentimentos e sensações que está me sufocando. Mas confesso que estou feliz de perceber que pelo menos ainda sou capaz de sentir tudo isso. É sinal de que ainda tem alguém aqui dentro. É sinal de que ainda há tempo.
Agora que, pelo menos um pouco, consegui abrir meus olhos, desembaçar a visão e olhar para os lados, não posso voltar a fechá-los. É o momento do meu resgate. Resgatar a mim mesma. Sentir, viver, ser.
Tudo fica mais difícil no momento atual da faculdade, que exige tanto do meu tempo e da minha energia. Para a minha sorte, o caminho da espada me ensinou que quando você sente que não tem mais energia, que não é mais capaz de continuar, você tem que firmar sua base, reunir coragem, canalizar o que restou da energia e multiplicá-la, encarando o combate com todas as suas forças. A hora do combate chegou. E como um combate de espadas, é uma luta de vida ou morte.
Meu maior medo é me tornar um autômato enferrujado e estereotipado que não tem consciência e muito menos vontade. E sinto que estou cada vez mais perto de me tornar esse tipo de criatura.
É o momento de respirar fundo, encarar de frente a vida, a mim mesma e o mundo ao meu redor. E sentir e ser como se minha vida dependesse disso. Porque, na verdade, ela depende.
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