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Caminhando sobre nuvens

Depois de algumas aulas de física, onde aprendi que tudo é relativo, e de aulas de filosofia, onde era incentivada a questionar tudo ao me redor, passei a ter uma visão mais crítica, digamos assim, a certos termos usados pelas pessoas.
Para explicar um pouco melhor, deixem-me dar um exemplo que um professor meu já usou. Os termos "em cima" e "em baixo". Na realidade, é só uma convenção para facilitar nossas vidas, porque não existe "em cima" e "em baixo". Os limites do universo são até então desconhecidos, é algo, dizendo a grosso modo, infinito. Não se sabe se ele tem um começo e um fim, e caso tenha, menos se sabe do que poderia existir fora dele. Logo, em que poderia se basear o que é em cima, ou o que é em baixo em algo tão abstrato e pouco conhecido como o universo? Ele não tem "uma posição", "um lado" certo. O que podemos é convencionar que o norte é em cima, o sul é em baixo, leste a direita e oeste a esquerda, mas isso são só nomeações. Outro exemplo que me deram na escola também. Você está dentro de um ônibus em movimento. Você olha para a pessoa ao lado, ela está parada. Você olha para um poste na rua, ele está em movimento. Agora quem está na rua vê o poste parado, e você em movimento dentro do ônibus. Isso mostra que tudo depende de um referencial, de um ponto de vista.
E é aí que alguns outros termos começam a me fazer pensar...
"Certo" e "errado", "bem" e "mal". Que tipo de base absoluta e geral têm esses conceitos? Em situações simples, é fácil definir o que é cada um baseando-se nas linhas em que segue a nossa sociedade. Por exemplo, uma senhora é assaltada na rua. A atitude do assaltante foi errada e criminosa, sendo pela lei, caráter, moral, etc. Isso é simples de se ver. Agora vou colocar outra situação. Na época em que a escravidão vigorava com toda a força, onde somente pela cor da pele, pessoas eram humilhadas, torturadas, exploradas, e sofriam todo o tipo de violência sem ter a mínima esperança de sair daquela situação. Uma mulher engravida, mas aborta a criança, por não querer ver seu filho sofrendo todas as atrocidades que ela sofreu durante a vida. Muitos consideram o aborto uma atrocidade, e eu mesma também, na maioria dos casos. Mas nessa situação que eu descrevi, a mulher matou seu filho por amá-lo e não querer que ele sofra a vida toda. Isso foi errado? Ela pode ser considerada alguém ruim, ou má por isso? Na minha opinião não. Aquela criança nasceria, e caso conseguisse sobreviver, seria escrava de senhores que a tratariam como lixo.
Outra situação mais cotidiana, que aconteceu comigo por sinal. Raspei os dois lados do meu cabelo. Minha mãe chegou a chorar por isso, dizendo que era feio, errado, ruim. É cabelo. Só. Pode ser feio, pra ela. Todos sabem (ou deveriam), gosto é algo pessoal. Errado? Ela diz que está fora dos padrões. Tudo bem, mas me digam, em que são baseados esses padrões? Para ela, tatuagens, alargadores, piercings. Tudo isso é fora dos "padrões". Foi alguém que disse isso? Está escrito em algum lugar? Com certeza não. É a mesma coisa com homossexuais. Há quem diga que é errado, que é algo ruim, pecado. Mas por quê? Onde está o mal nisso? É, não tem nenhum.
Se eu for dar mais exemplos, vou ficar falando para sempre aqui (já estou quase lá). Mas só acho que as pessoas deveriam pensar mais antes de afirmar que determinada atitude é certa, ou errada, boa ou ruim. Isso vai depender da visão de cada um, e em que é baseado. Não julgue alguém por padrões sem fundamentos. Não crie opiniões em bases fracas, não construa seus argumentos sobre nuvens, nem ande sobre elas. Seus argumentos, juntamente com você, cairão por terra, e você perderá a razão.
Porque se eu virar um mapa de ponta cabeça na minha frente, o sul vai estar para cima, e o norte para baixo. E isso não está errado, está?
 
 

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